Setembro é marcado pelo Setembro Amarelo, uma campanha global que conscientiza sobre a prevenção ao suicídio e a importância de cuidar da saúde mental. No cenário do esporte de alto rendimento, onde a pressão e o desgaste físico e emocional são constantes, essa discussão se torna cada vez mais relevante. Muitos atletas enfrentam uma luta silenciosa contra a depressão, ansiedade e outros transtornos mentais, enquanto buscam o alto desempenho.
Casos como o de Simone Biles, que chocou o mundo ao priorizar sua saúde mental nas Olimpíadas de Tóquio em 2021, e de Andrew Luck, trazem à tona a urgência de tratar a saúde mental de forma tão prioritária quanto o preparo físico.
Segundo a pesquisa de Alexandre Conttato Colagrai, desenvolvida no Grupo de Estudos em Psicologia do Esporte e Neurociências (Gepen), 3% dos atletas de alto rendimento apresentam sintomas de depressão grave, enquanto cerca de 30% relatam sintomas leves ou moderados. Outros 24% já afirmaram ter pensado em suicídio, evidenciando o risco de ignorar essas questões.
Esses dados reforçam a necessidade de apoio psicológico, bem como o desenvolvimento de estratégias para que esses atletas possam alcançar seus objetivos sem comprometer sua saúde mental.
Simone Biles: Inabalável
Nas Olimpíadas de Tóquio 2021, Simone Biles fez história ao abrir mão de disputar as finais do individual geral devido a bloqueios mentais. Ela experimentou os “twisties”, fenômeno em que o corpo perde a noção espacial durante movimentos, causando uma queda drástica no desempenho. Considerada por muitos como a maior ginasta da história, Biles trouxe à tona a discussão sobre a saúde mental no esporte.
Sobre sua decisão, Biles declarou: “Assim que eu piso no tablado, sou só eu e minha mente lutando contra demônios. Preciso fazer o que é certo para mim, focar na minha saúde mental e preservar meu bem-estar. Não confio em mim como antes.”
Apesar do impacto, Biles buscou tratamento e, três anos depois, retorna como favorita nas Olimpíadas de Paris. Ela declarou recentemente: “Passei por muitos traumas e cura. Agora, nada pode me quebrar.” Biles provou que, ao priorizar sua saúde mental, superou os desafios e recuperou a confiança.
Andrew Luck: O Limite
Na NFL, um caso emblemático foi a aposentadoria precoce de Andrew Luck, quarterback do Indianapolis Colts. Em 2019, aos 29 anos e no auge da carreira, Luck anunciou sua aposentadoria, citando a necessidade de cuidar de si mesmo e de sua família.
Em sua despedida, Luck afirmou: “Estou me aposentando para ser um marido e pai melhores.” O jogador explicou que o ciclo constante de dor estava afetando seu bem-estar emocional e seus relacionamentos. Apesar de ser visto como um dos melhores talentos de sua geração, Luck escolheu preservar sua saúde mental e física.
Pat McAfee, ex-colega de equipe, ressaltou o impacto das lesões e o ciclo de dor que Luck enfrentava, apesar de sempre parecer resiliente. Segundo ele, Luck “era mais inteligente e melhor do que todos, mas a dor era constante.”
Luck buscou terapia para lidar com o dilema entre seguir como um dos maiores do esporte ou priorizar a vida pessoal. Ao decidir se afastar, ele afirmou ter “colocado essa parte de si para descansar.”
O Peso da Decisão
A diferença nas trajetórias de Biles e Luck não está na decisão final de continuar ou se aposentar, mas no reconhecimento de seus limites. Como Biles declarou: “Ninguém está me obrigando a fazer isso.” Com ajuda e tratamento, ambos atletas tomaram a decisão mais difícil para profissionais de alto nível: traçar a linha entre seguir em frente ou parar, mostrando que, acima de tudo, cuidar da mente é essencial para uma carreira saudável e sustentável.