Japão aprova retomada da maior usina nuclear do mundo 15 anos após Fukushima

Foto: Reutters

O Japão deu um passo decisivo para a retomada da energia nuclear ao autorizar o reinício da usina de Kashiwazaki-Kariwa, a maior do mundo, que estava paralisada há mais de 15 anos após o desastre de Fukushima. A assembleia da província de Niigata aprovou, nesta segunda-feira (22), um projeto de lei que permite à Tokyo Electric Power Company (Tepco) religar um dos sete reatores do complexo.

Segundo a emissora pública NHK, a empresa planeja colocar o reator número 6 em operação por volta de 20 de janeiro. A decisão ocorre em meio aos esforços do governo japonês para reduzir a dependência de combustíveis fósseis importados e avançar no cumprimento das metas climáticas do país.

Desde o terremoto e tsunami de 2011, que provocaram o pior acidente nuclear desde Chernobyl, o Japão adotou uma postura cautelosa em relação à energia nuclear. À época, todas as 54 usinas do país foram desligadas. Atualmente, apenas 14 dos 33 reatores ainda existentes voltaram a operar, de acordo com a Associação Nuclear Mundial.

A retomada em Niigata será a primeira sob a gestão da Tepco desde Fukushima, o que aumenta a apreensão de moradores locais. Para tentar tranquilizar a população, a companhia afirma ter adotado medidas rigorosas de segurança. “Estamos firmemente comprometidos em nunca repetir um acidente como esse”, declarou o porta-voz da empresa, Masakatsu Takata.

Antes de 2011, a energia nuclear respondia por cerca de 30% da eletricidade japonesa. Após o desastre, o país passou a depender fortemente de carvão e gás importados, que hoje representam entre 60% e 70% da geração elétrica. Apenas no último ano, essas importações custaram cerca de 10,7 trilhões de ienes ao Japão.

Defensora da retomada nuclear, a primeira-ministra Sanae Takaichi argumenta que a medida é essencial para reduzir custos de energia, conter a inflação e estimular a economia. O Japão é atualmente o quinto maior emissor de dióxido de carbono do mundo, mas se comprometeu a alcançar emissões líquidas zero até 2050.

Apesar do avanço das fontes renováveis, como solar e eólica, a demanda por energia deve crescer nos próximos anos, impulsionada pela expansão de centros de dados voltados à inteligência artificial. Nesse cenário, o governo pretende dobrar a participação da energia nuclear na matriz elétrica, alcançando 20% até 2040.

Ainda assim, a memória de Fukushima segue viva. Pesquisa divulgada em outubro pela província de Niigata aponta que 60% dos moradores não acreditam que todas as condições de segurança foram atendidas. Quase 70% demonstram preocupação com a operação da usina pela Tepco.

A empresa afirma que a usina passou por diversas inspeções e melhorias, incluindo a construção de novos muros marítimos, reforço contra tsunamis, ampliação de sistemas de resfriamento e filtros para conter material radioativo. No fim de outubro, a Tepco concluiu uma nova rodada de testes e declarou o reator apto para voltar a funcionar.