Gessinger, acústicos e memórias afetivas

Humberto Gessinger iniciou a turnê Acústicos Engenheiros do Hawaii nos dias 11 e 12 de janeiro. Foto: Lucas Borghetti

No táxi que me trouxe até aqui, Humberto Gessinger me dava razão: O artista faz o que quer e não faz o que não quer. Em duas noites esgotadas no Auditório Araújo Vianna, em Porto Alegre, o ex-líder do Engenheiros do Hawaii iniciou nos dias 11 e 12 de janeiro a turnê que homenageia o Acústico MTV (2004) da banda e o Acústico Novos Horizontes (2007). Gessinger ainda declarou que foi há exatos 40 anos que pisou num palco pela primeira vez, o que torna a celebração ainda mais especial. Mas acima de tudo, foi honesto: “Isso tudo é importante, mas tô fazendo essa turnê mais porque eu quero mesmo”, afirmou.

Na minha opinião, o Engenheiros não está entre as melhores bandas do rock nacional, mas quem precisa de ranking quando a música consegue acessar nossas maiores memórias afetivas? Eu mesma: a banda tá longe de ser a minha preferida, mas em todos os shows que vi do Humberto eu chorei. Talvez porque lembre da minha adolescência e era a banda favorita de um dos meus melhores amigos, com quem nunca mais consegui contato. E cada espectador deve ter seus motivos, o que deve ter a ver também com o fato do grupo do Rio Grande do Sul ser um dos mais conhecidos nacionalmente – o que dá orgulho – , e também com a nostalgia da era de ouro dos acústicos, principalmente dos produzidos pelo canal de música.

Com 1h45 de duração, o show mais do que cumpre seu papel. Havia bonitas e coloridas ilustrações no fundo do palco, remetendo aos discos homenageados e também à carreira e à vida de Humberto no geral (só achei chato aparecer apenas o artista na reprodução da capa do disco Longe Demais das Capitais (1986), afinal a banda na época era formada também por Carlos Maltz e Marcelo Pitz). A formação no palco contava com Felipe Rotta (violão), Rafael Bisogno (bateria), Nando Peters (baixo) e o charme do acordeon de Paulinho Goulart, dando um toque bucólico aos arranjos que lembraram os dos acústicos, com algumas boas surpresas, como “Vida Real” puxada pro reggae e “A Revolta dos Dândis I” versão blues.

Ainda sobre repertório, o setlist foi cuidadosamente escolhido de maneira a destacar canções interessantes do Engenheiros, como “No meio de tudo, você”, “Alívio Imediato”, “Simples de Coração”, “Vertical”, “Novos Horizontes”, “3×4” e “Infinita Highway”, sem deixar de lado as baladas queridíssimas, como “Pra ser sincero”, “Piano Bar” e Refrão de um bolero”.

Devido a esses aspectos, essa foi a turnê do Humberto Gessinger mais interessante que já vi e que mais prendeu minha atenção do início ao fim. Veja e se emocione.