A convite da Warner Bros. Pictures e do Espaço Z estive na cabine de imprensa conferindo uma das estreias mais aguardadas do ano, tanto para mim quanto para um massivo público apaixonado pelo primeiro longa.
Confesso que deixei de lado as críticas tecidas durante o Festival de Veneza para ter uma experiencia mais pura e, adivinhem, não gostei de nada!
Vamos começar tirando o elefante branco da sala: SIM! É musical!
A sequência do aclamado filme de Todd Phillips acompanha as consequências dos atos de Arthur Fleck, agora preso em Arkham Asylum e lidando com seu julgamento. Dentro deste espaço dividido entre penitenciaria de segurança máxima e sanatório, ele encontra Lee Quinzel, uma paciente que nutre um fascínio pelo Coringa.
Durante o processo de ser julgado, Arthur e Lee vão nutrindo um amor nada convencional, delirando com sua existência como um casal apoteótico que quer construir uma montanha e cantam em seus devaneios.
Sim! As músicas de fato acontecem nos momentos de delírios de ambos.
O longa também foca muito na dualidade de redenção versus abraçar os próprios demônios, também pincelando pitadas de amor tóxico e seguindo a cartilha emocional mostrando as consequências de ser renegado em uma sociedade padronizada onde o diferente é atacado como um monstro sem pudor.
Enfim, o filme parece mais um episódio de uma série colocado na trama para preencher o vazio, indo praticamente de lugar nenhum a nenhum lugar nas 2h20m de projeção.
O que mais me impressionou foi ver o quanto o marketing do filme se escorou na Lady Gaga para a divulgação, quando a mesma aparece menos que os guardas da cadeia.
A atuação de Joaquin Phoenix continua monstruosa, com uma fisicalidade impressionante e uma entrega à alma do personagem que poucos conseguem executar com maestria. Todas nuances estão lá, seja no olhar, na expressão, na risada que esconde a dor real de uma alma torturada pela sociedade. Enfim, uma atuação digna de indicação ao Oscar.
Já a Lady Gaga… Ah Lady Gaga… Até agora não entendi o surto da existência dela neste longa [e olha que sou Little Monster declarado, mas se é ruim, sou obrigado a dizer]. A atuação dela é uma repaginação de sua personagem em NASCE UMA ESTRELA, porém com um pezinho no manicômio. Sem emoção, sem frescor, apenas uma artista que foi usada pelo seu nome.
A trilha, composta novamente pela islandesa Hildur Guðnadóttir, continua sensacional dando o peso que a película pede, infelizmente quebrada com números musicais que achei completamente deslocados quebrando o peso da narrativa.
A fotografia é outro ponto fortíssimo, fazendo o IMAX valer a pena com cenas que beiram à pinturas artísticas dignas de museu.
Em resumo: Coringa: Delírio a Dois parece uma versão do CAPS de Moulin Rouge, com um final agridoce e momentos de estafa pelas quebras de ritmo e pelo roteiro raso que peca pela falta de inventividade. Se Todd tivesse abraçado esse projeto como um verdadeiro musical, talvez teria um produto muito superior por não estar em cima do muro.
NOTA: 4/10