Sábado, 27 de julho de 2024

Somos todos Brasileiros do Rio Grande do Sul

O Beira-Rio estava lotado, 106.554 torcedores, o maior público da história do estádio. Quando tocou o hino do Brasil, há quem diga que o que se ouviu foi uma estrondosa vaia. Reza a lenda que bandeiras nacionais foram queimadas. O ano era 1972 e o público não lá para ver os craques que ostentavam o tricampeonato mundial. Os gaúchos queriam vencer os brasileiros. A vitória quase aconteceu, com a Seleção Gaúcha a frente do placar três vezes, com gols de Tovar, Carbone e Claudiomiro. No entanto, Jairzinho, Paulo César Cajú e Rivellino trataram de deixar o jogo empatado.

A histórica partida é mais um capítulo de algo muito presente na história da nossa antiga Província de São Pedro, as diversas rixas com o resto do Brasil. Rivalidade que não ficou apenas no futebol, mais de um século antes, o general farroupilha Antônio de Sousa Neto chegou a proclamar a República de Piratini.

As razões para este sentimento ser ainda presente em muitos gaúchos eu deixo para que sociólogos, historiadores e, talvez, psicólogos expliquem. O que quero propor aqui é o porquê de eu acreditar que devemos esquecer de uma vez por todas esta ideia.

Aliás, quem sou eu para argumentar, se o próprio Teixeirinha já falou cantou que a nossa Querência Amada, nosso Rio Grande, de encantos mil é disposto a tudo pelo Brasil? Mesmo assim, me coloco ao lado do cantor nesta reflexão. E trago novamente um jogo de futebol como símbolo.

Que simbólica a partida de ontem (26) no Maracanã! Uma representação perfeita do que temos visto desde que esta tragédia absurda começou. Na mesma proporção em que as chuvas nos castigaram, o Brasil esteve disposto a tudo pelo Rio Grande.

Se em 72, o Hino Nacional foi vaiado no Rio Grande do Sul, ontem, o Hino Gaúcho foi cantado no Maracanã. A bandeira gaúcha esteve nas arquibancadas do maior estádio do mundo, no mosaico apresentado pela torcida e no peito de cada atleta, ex-atleta e artista que esteve em campo.

Os 10 gols, cinco da Esperança e cinco da União, alguns com assinaturas de gente tão ligada ao Rio Grande como Ronaldinho, D’Alessandro e Nenê foram a celebração máxima de um esforço nacional para ajudar nosso estado. Esforço que tem sua materialidade nos mais de 1,5 milhão de litros de água doados, nas milhares de toneladas de alimentos enviadas para cá, no trabalho de voluntários de todos os estados, tanto na linha de frente dos resgates, quanto nos abrigos.

Sinceramente, diante do abraço que recebemos de todo o Brasil, fico até constrangido quando vejo em um carro um adesivo do tipo “O Sul é meu país”. Acho que passou do momento de esquecermos isso e cantarmos com a Ultramen. “Somos todos irmãos sob esse céu azul, nós somos brasileiros do Rio Grande do Sul”.