Ciclone e tornado deixam rastro de destruição no sul do Brasil: Rio Grande do Sul e Paraná vivem dias de caos e reconstrução

Fenômenos climáticos extremos atingiram os dois estados entre sexta (7) e sábado (8), causando mortes, milhares de desabrigados e colapso nos serviços de energia e abastecimento de água.

Foto: Reuters/via Governo do Estado do Paraná

O Sul do Brasil enfrenta um dos episódios climáticos mais severos dos últimos anos. Um ciclone extratropical que passou pelo Rio Grande do Sul e um tornado de categoria EF3 que devastou cidades do Paraná deixaram um rastro de destruição, mortes e prejuízos materiais. Em meio ao cenário de caos, equipes de resgate, concessionárias de energia e órgãos de defesa civil trabalham intensamente para restabelecer serviços e auxiliar as populações atingidas.

No Rio Grande do Sul, cerca de 200 mil pontos ficaram sem energia elétrica no início da tarde deste sábado (8). As regiões Metropolitana, Carbonífera e Litoral Norte foram as mais afetadas, segundo a CEEE Equatorial. A concessionária estima que a maior parte dos consumidores tenha o serviço restabelecido até a madrugada de domingo (9). Em Porto Alegre, a força dos ventos derrubou árvores e postes de concreto — apenas na Avenida Baltazar de Oliveira Garcia, oito estruturas caíram, comprometendo o fornecimento de energia e, consequentemente, de água em 63 bairros da capital.

Com a falta de energia elétrica, o abastecimento de água também foi interrompido em diversas cidades gaúchas. O Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) informou que as estações São João e Belém Novo operam parcialmente, e o retorno será gradual. Em Canoas, Eldorado do Sul e Guaíba, a Corsan Aegea atua para normalizar o fornecimento, mas ainda há instabilidade devido a quedas de energia. Em várias localidades, a água deve voltar apenas nas próximas horas, especialmente nas áreas mais altas.

Enquanto os gaúchos lidam com os efeitos do ciclone, o Paraná enfrenta um cenário de tragédia após a passagem de um tornado com ventos de até 250 km/h. O fenômeno, classificado como EF3 na escala Fujita — que vai até cinco —, devastou Rio Bonito do Iguaçu, no Centro-Sul do estado. Segundo a Defesa Civil, seis pessoas morreram e 750 ficaram feridas, além de mais de mil desabrigadas. A cidade, com cerca de 14 mil habitantes, teve 90% de seu território destruído. Casas, escolas e comércios foram completamente arrasados. O impacto foi comparado por moradores a uma “explosão” ou “bomba atômica”.

O tornado se formou em decorrência do mesmo ciclone extratropical que atingiu o Rio Grande do Sul e provocou tempestades intensas também em Santa Catarina e no Sudeste do país. De acordo com o Simepar (Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná), as condições atmosféricas estavam ideais para o surgimento do fenômeno: alta umidade, aquecimento e forte cisalhamento dos ventos. O meteorologista Samuel Braun afirmou que, em mais de duas décadas de carreira, nunca havia presenciado um evento tão destrutivo.

As autoridades estaduais e federais se mobilizaram rapidamente. O governo do Paraná enviou 50 bombeiros e equipes especializadas em busca e salvamento, com apoio de cães farejadores. Caminhões da Defesa Civil foram carregados com cestas básicas, kits de higiene e colchões para atender as vítimas. O ministro da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, anunciou o envio de ajuda humanitária e apoio às ações de reconstrução sob orientação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O cenário no Sul é de solidariedade e reconstrução, mas também de alerta. Meteorologistas reforçam que eventos extremos como ciclones e tornados tendem a se tornar mais frequentes com as mudanças climáticas. Enquanto as autoridades buscam restabelecer serviços e oferecer abrigo às famílias afetadas, Rio Grande do Sul e Paraná enfrentam o desafio de se reerguer após dias marcados por destruição, medo e perda.