
Diante de uma sequência prolongada de resultados negativos, os Correios anunciaram nesta segunda-feira (29) um plano de reestruturação considerado decisivo para a sobrevivência financeira da estatal. A estratégia inclui cortes expressivos de despesas, redução da estrutura física e mudanças na política de pessoal, com o objetivo de estancar prejuízos e preparar a empresa para um novo ciclo econômico.
Um dos principais eixos do plano é a diminuição dos gastos com recursos humanos. A empresa pretende reduzir em cerca de R$ 2,1 bilhões os custos com pessoal, principalmente por meio de um Programa de Demissão Voluntária (PDV). A expectativa é que, em até dois anos, aproximadamente 15 mil funcionários deixem a estatal, o equivalente a uma redução de 18% no quadro atual.
Além disso, os Correios planejam fechar cerca de mil agências consideradas deficitárias, de um total aproximado de cinco mil unidades espalhadas pelo país. Outra frente importante é a venda de imóveis não operacionais, que pode gerar até R$ 1,5 bilhão em caixa, ajudando a aliviar a pressão financeira da empresa.
Durante a apresentação do plano, o presidente dos Correios, Emmanoel Rondon, afirmou que o modelo econômico da estatal deixou de ser sustentável. Segundo ele, sem ajustes imediatos, a empresa poderia chegar a um prejuízo acumulado de até R$ 23 bilhões em 2026. A projeção é de que o equilíbrio financeiro seja retomado ao longo do próximo ano, com perspectiva de lucro apenas a partir de 2027.
Para reforçar o caixa e quitar dívidas, a estatal contratou um empréstimo de R$ 12 bilhões junto a um consórcio de bancos públicos e privados, com garantia da União. Parte significativa desse valor deve ingressar nos cofres da empresa ainda neste mês, enquanto o restante está previsto para o início de 2026. O contrato prevê carência de três anos e início do pagamento das parcelas apenas em 2029.
No campo das receitas, os Correios reconhecem dificuldades recentes, especialmente após mudanças no mercado de encomendas internacionais. A implementação do programa Remessa Conforme, que passou a permitir maior concorrência no transporte de mercadorias importadas, impactou diretamente o volume de negócios da estatal. Ainda assim, a empresa projeta ampliar o faturamento e alcançar R$ 21 bilhões em 2027.
Outro ponto sensível do plano é a revisão do Postal Saúde, plano de assistência médica dos funcionários. A direção dos Correios avalia que o modelo atual gera alto custo e precisa ser reformulado para garantir a sustentabilidade tanto da operadora quanto da estatal, que enfrenta dificuldades para manter os repasses.
A reestruturação também prevê investimentos de médio e longo prazo, com foco em automação, modernização logística, tecnologia da informação e renovação da frota, incluindo iniciativas de descarbonização. Esses aportes devem ser viabilizados por meio de financiamento internacional nos próximos anos.
Com o pacote de medidas, os Correios buscam redefinir sua atuação no mercado, reduzir custos estruturais e recuperar a capacidade de investimento. O desafio, segundo a própria direção, será equilibrar o ajuste financeiro com a manutenção dos serviços prestados à população em todo o país.
