José Antonio Kast é eleito presidente do Chile e extrema direita volta ao poder após 35 anos

Foto: MARVIN RECINOS/AFP via Getty Images

Os eleitores chilenos elegeram neste domingo (14) o conservador José Antonio Kast como novo presidente do país. Com 95,18% das urnas apuradas, o candidato da extrema direita somava 58,3% dos votos, contra 41,7% da candidata da esquerda, Jeannette Jara. A vitória encerra o governo do presidente Gabriel Boric e marca o retorno da extrema direita ao poder no Chile, 35 anos após o fim da ditadura de Augusto Pinochet (1973–1990).

O Serviço Eleitoral do Chile (Servel) confirmou o encerramento da votação por volta das 18h. Cerca de 15 milhões de eleitores estavam aptos a votar neste segundo turno, que, diferentemente do primeiro, teve participação obrigatória. Quem deixou de comparecer poderá ser multado, com valores que variam entre 34 mil e 104 mil pesos chilenos, dependendo da reincidência.

No primeiro turno, realizado em 16 de novembro, Jeannette Jara havia ficado à frente, com 26,8% dos votos, enquanto Kast obteve 23,9%. No entanto, o candidato conservador ampliou significativamente sua votação no segundo turno, superando as projeções iniciais.

Após a divulgação do resultado, Jeannette Jara reconheceu a derrota em publicação na rede social X. “A democracia falou alto e claro. Acabo de me comunicar com o presidente eleito José Antonio Kast para lhe desejar sucesso pelo bem do Chile”, escreveu.

Apelidado de “Bolsonaro chileno”, Kast é advogado, tem 59 anos e disputou a presidência pela terceira vez. Defensor de pautas conservadoras e crítico do atual governo, ele já fez declarações elogiosas ao regime de Pinochet, período marcado por repressão e graves violações de direitos humanos. A Constituição herdada da ditadura segue em vigor, após duas tentativas frustradas de reforma rejeitadas em plebiscitos recentes.

A campanha eleitoral foi fortemente marcada pelo tema da imigração. Nos últimos anos, o Chile se tornou um dos principais destinos de imigrantes na América do Sul, especialmente venezuelanos. A população estrangeira dobrou em sete anos e já representa 8,8% do total do país. O aumento da imigração irregular e a associação com a criminalidade foram explorados politicamente durante a disputa.

Ao encerrar a campanha, Kast prometeu restaurar a ordem e a segurança no país, afirmando que o Chile vive um cenário de “caos, desordem e insegurança”. Especialistas avaliam que sua vitória representa uma guinada mais radical à direita do que governos conservadores anteriores, como o de Sebastián Piñera.

A eleição ocorre em meio a um cenário político ainda marcado pelas consequências do Estallido Social de 2019, quando protestos massivos contra desigualdades sociais foram reprimidos com violência. Analistas apontam que a frustração com as tentativas fracassadas de reforma constitucional e a polarização política abriram espaço para o avanço da extrema direita no país