
Durante audiência de custódia realizada neste domingo (23), em Brasília, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que tentou abrir a tornozeleira eletrônica porque passou por um episódio de “surto”, que teria sido provocado pelo uso recente de medicamentos controlados. O comportamento levou à decretação de uma nova prisão preventiva, mantida pela juíza auxiliar Luciana Sorrentino após análise dos procedimentos adotados pela Polícia Federal.
Bolsonaro havia sido preso no sábado (22), após agentes identificarem tentativa de violação do equipamento que monitorava sua prisão domiciliar. O episódio ocorreu horas depois de seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), incentivar apoiadores a se reunirem do lado de fora do condomínio, em uma espécie de vigília, onde o ex-presidente cumpria a medida.
Versão apresentada pelo ex-presidente
No depoimento registrado em ata, Bolsonaro relatou que:
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vinha utilizando pregabalina e sertralina, receitados para transtornos psiquiátricos;
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estava dormindo mal nos últimos dias e sentia ansiedade constante;
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acreditou, de forma delirante, que a tornozeleira continha algum tipo de dispositivo de escuta;
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utilizou um ferro de solda para tentar abrir a proteção do equipamento por volta da meia-noite;
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interrompeu a ação ao perceber que estava agindo de maneira irracional e procurou contato com os agentes de monitoramento;
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afirmou nunca ter enfrentado episódio parecido antes;
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negou qualquer intenção de fugir.
Audiência confirma legalidade da prisão
Após ouvir a versão do ex-presidente e avaliar os documentos encaminhados pela PF, a juíza confirmou a manutenção da prisão preventiva. Audiências desse tipo são obrigatórias no sistema brasileiro para garantir que o detido tenha seus direitos preservados — mesmo quando a ordem de prisão parte do próprio STF.
A sessão terminou por volta das 12h40, horário em que os advogados deixaram a Superintendência da Polícia Federal.
Análise do STF ocorre nesta segunda
A Primeira Turma do Supremo deve julgar nesta segunda-feira (24) se confirma ou revoga a decisão do ministro Alexandre de Moraes. Participam da análise os ministros Flávio Dino, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin — Moraes não vota.
Se o colegiado validar a medida, a prisão preventiva poderá permanecer enquanto a Corte considerar necessária, sendo reavaliada a cada 90 dias.
Além da prisão, seguem valendo determinações já impostas:
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atendimento médico contínuo dentro da PF;
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visitas restritas, com autorização expressa do STF, exceto para advogados e profissionais de saúde;
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cancelamento de permissões já concedidas, inclusive de autoridades.
Situação paralela: condenação por tentativa de golpe
Bolsonaro foi condenado recentemente a 27 anos e 3 meses por liderar a tentativa de manter-se no poder após a derrota eleitoral de 2022. Apesar da sentença, ele ainda não cumpre pena definitiva porque o prazo para recursos segue aberto — e se encerra também nesta segunda (24). Caso a condenação seja confirmada, ele deverá iniciar o cumprimento em regime fechado, o que fará com que sua prisão atual seja sucedida imediatamente pela pena final.
