Eu nunca entendi porque os Engenheiros cantavam “na zona sul existe um rio”, se na verdade o Guaíba existe também no Centro e na zona norte. Hoje, parece fazer mais sentido. Quase como se o Humberto, inconscientemente, gritasse para todos que as águas também estão no sul de Porto Alegre. Faço coro e acrescento, embora pareça óbvio, que nas ilhas também existe um rio (peço licença de não chamar de lago para manter a musicalidade).
Nos versos seguintes, a música lembra que atrás do muro existe um rio. E é este o ponto que grita! Na zona norte e no centro existe um muro (que na verdade, não bem existiu). Mas na zona sul e nas ilhas é que ardem fins de tarde, noite e manhã embaixo d’água.
Há quase dois meses, diariamente falamos sobre o nível do Guaíba, cota de alerta e cota de inundação. Esta última, era de 3 metros no cais e agora é 3,6 metros na Usina do Gasômetro. No entanto, antes de chegarmos a este ponto no Centro, quem mora nas ilhas e em alguns bairros no extremo sul de Porto Alegre já estão sendo afetados.
Se é verdade que o que aconteceu na capital em maio não encontra precedentes nem na enchente de 1941, também não podemos ignorar que para quem vive na região do arquipélago, ver as ruas invadidas pelas águas, já é algo longe de ser raro (ainda que não seja nas proporções apocalípticas deste 2024).
Neste momento em que a água, literalmente, bateu no pescoço, fica claro que a cidade precisa de novas soluções (além da manutenção daquilo que já existe, é claro). Então, se precisamos repensar a relação de Porto Alegre com o Guaíba, talvez o primeiro passo seja lembrar que Porto Alegre é maior do que a região central. É preciso pensar a proteção da cidade em todas as suas regiões para que o sistema contra inundações não seja apenas uma versão mal traduzida.