Sou advogado. Mas desisti do Direito tem tempo. Foi em um verão. Dias depressivos em Capão da Canoa. Não fui uma vez que fosse na beira da praia. O que eu fazia quando estava acordado era ler Kafka. Minha vida não chegava a ser um teatro do absurdo. Ou talvez fosse e eu estivesse aprendendo isso aos poucos.
Sei que ao ler O Processo, romance kafkiano de 1925, tive muita pena de Josef K. mais do que isso temia em virar um Josef K. ou dentro do que viria a ser meu trabalho, transformar alguém em um processado sem vestígios, provas, informações, sem o tão propalado devido processo legal.
Depois da leitura, nunca mais enxerguei o curso de Ciências e Jurídicas e Sociais da mesma forma. Esse é o impacto que Kafka pode ter. Esse foi o impacto que teve em minha vida e pode ter ocorrido parecido com muitos outros.
Com o passar do tempo, preferi ser um Artista da Fome, mendigando atenção e prestígios pouco verdadeiros. Talvez seja menos verdadeiro mesmo. Mas é mais lúdico. É uma mentira que me cai bem aos ouvidos.
Analisar Kafka seria muita pretensão da minha parte. Por isso, preferi fazer esse relato mais pessoal, uma alternativa absurda para a obra do rei dos absurdos tão normais. Onde estamos? O realismo fantástico das nossas vidas permite admirar a ficção com ares de vida real.