Segunda-feira, 6 de maio de 2024

O Eterno Retorno Processual

Sou advogado. Mas desisti do Direito tem tempo. Foi em um verão. Dias depressivos em Capão da Canoa. Não fui uma vez que fosse na beira da praia. O que eu fazia quando estava acordado era ler Kafka. Minha vida não chegava a ser um teatro do absurdo. Ou talvez fosse e eu estivesse aprendendo isso aos poucos.

Sei que ao ler O Processo, romance kafkiano de 1925, tive muita pena de Josef K. mais do que isso temia em virar um Josef K. ou dentro do que viria a ser meu trabalho, transformar alguém em um processado sem vestígios, provas, informações, sem o tão propalado devido processo legal.

Depois da leitura, nunca mais enxerguei o curso de Ciências e Jurídicas e Sociais da mesma forma. Esse é o impacto que Kafka pode ter. Esse foi o impacto que teve em minha vida e pode ter ocorrido parecido com muitos outros.

Com o passar do tempo, preferi ser um Artista da Fome, mendigando atenção e prestígios pouco verdadeiros. Talvez seja menos verdadeiro mesmo. Mas é mais lúdico. É uma mentira que me cai bem aos ouvidos.

Analisar Kafka seria muita pretensão da minha parte. Por isso, preferi fazer esse relato mais pessoal, uma alternativa absurda para a obra do rei dos absurdos tão normais. Onde estamos? O realismo fantástico das nossas vidas permite admirar a ficção com ares de vida real.